Por: Dr. Kemel Ayoubi
Em um só versículo da Fatiha, Deus reuniu toda a relação entre a criatura e o criador, e vice versa. Em:
“Só a Ti adoramos e só a Ti pedimos ajuda”
No tocante à relação da criatura com o criador: “Só a Ti adoramos”. E quanto à relação de Deus para com a criatura: “Só a Ti pedimos ajuda”.
A adoração é o máximo do amor, acompanhado com a máxima submissão. Os árabes dizem: tarikun muaabbad (caminho asfaltado), no sentido de muzallal, ou seja, submisso. Daí a adoração ser o amor com submissão plena. Onde, quem nega o amor da criatura ao criador, está negando a adoração verdadeira. Da mesma forma, quem nega o amor de Deus para com a sua criação, está negando a sua divindade, ao adorar a outra divindade, mesmo que reconheça ser Ele o Senhor dos Mundos.
O pedido de ajuda reúne a confiança em Deus e a dependência d’Ele. Uma vez que podemos confiar em alguém, sem dele dependermos para a resolução de algo. Por outro lado, podemos depender de alguém para a solução de nossos problemas sem nele confiarmos, por dele necessitarmos, ou por não haver outro que o faça. A palavra que reúne estes dois propósitos é a palavra árabe: Attawaccul. É ela a verdade contida em
“Só a Ti adoramos e só a Ti pedimos ajuda.”
A exemplo do profeta Chuaaib (عليه السلام):
“Respondeu: Ó povo meu, não vedes que possuo a evidência de meu Senhor e ele me agraciou generosamente…? Não pretendo contrariar-vos, a não ser no que Ele nos vedou; só desejo a vossa melhoria, de acordo com a minha capacidade; e meu êxito só depende de Deus, a Quem me encomendo e a Quem retornarei, contrito.” (Alcorão Sagrado 11:88)
ou nas palavras de Deus:
“A Deus pertence o mistério dos céus e da terra, e a Ele retornarão todas as coisas. Adora-O, pois, e encomenda-te a Ele, porque teu Senhor não está desatento de tudo quanto fazeis!” (Alcorão Sagrado 11:123)
Nestas duas referências, por exemplo, Deus reuniu os dois princípios: Só a Ti adoramos e só a Ti pedimos ajuda.
Antecipar na Fatiha a adoração ao pedido de ajuda, é a antecipação dos fins ao meios empregados, uma vez que a adoração é o fim das criaturas, para qual foram criadas. Pedir ajuda é o meio que nos leva ao fim. E por ser “só a Ti adoramos” referente à divindade, e por ser “só a Ti pedimos ajuda” referente à senhoria. Deus antecipou o nome Allah ao nome Rab, no início da Fatiha em
“Louvado seja Deus Senhor dos mundos.”
” Só a Ti adoramos e só a Ti pedimos ajuda”, que enquadra as pessoas em 4 categorias:
1. Os sinceros e os seguidores de só a Ti adoramos.
2. Os que não são sinceros e os que não seguem a senda reta.
3. Os sinceros porém não seguidores da senda reta, os quais baseiam sua adoração em suposições.
4. Os que agem conforme o bem, porém sem ser para o agrado de Deus, podendo ser para o agrado das demais criaturas.
Os que adotam plenamente “só a Ti adoramos” são os que disciplinaram:
1. o seu interior, ao crerem de maneira correta
2. os seus órgãos de comunicação com o mundo, ao informarem a respeito do certo, a ele conclamar, a ele defender e a esclarecer o certo do errado, mostrando as provas disto.
3. as suas ações tal como, amar, temer, retornar a Deus, ser sincero para com o Islam, ser paciente no cumprimento do mesmo, e as decorrências disto, buscar forças no Islam etc. …
4. a ação manifesta pelos componentes do próprio corpo, como rezar, jejuar, praticar o jihad, etc. …
Só a Ti adoramos: é assumir o acima exposto e reconhecê-lo e só a Ti pedimos ajuda: é pedir a ajuda para concretizá-lo, e oriente-nos na senda reta: implica no detalhamento de ambos.
Disse Deus, o Altíssimo: “E adora ao teu Senhor até que te chegue a certeza.” (Alcorão Sagrado 15:99)
Portanto, cabe à criatura, a manutenção do “só a Ti adoramos”, conquanto viva, e não há espaço para a alegação de que fulano atingiu um nível de adoração, que está além de qualquer um dos parâmetros do Islam. Este deixou de ser seguidor da senda reta do Islam, trazido pelos mensageiros, a paz de Deus esteja com todos eles e com o último deles Muhammad ﷺ, o qual nem por ser mensageiro de Deus deixou de praticar qualquer parcela do Islam por ele transmitido.
É necessário frisar que, ao embarcarmos na vida, encontraremos ondas e mais ondas de contrariedades do destino. É ofício do navegante conduzir sua embarcação entre as mesmas. Defendendo-se do destino, mediante o emprego deste. Deus ordenou que a má ação (que é uma destinação d’Ele) seja repelida por uma boa ação (que é uma destinação d’Ele), da mesma forma que ordenou o afastamento da fome mediante a alimentação. Se um de nós se render a qualquer dificuldade, estará sendo um transgressor da ordem de Deus, contida em nosso pedido de ajuda a Ele, O qual por ser o Todo Poderoso, é plenamente capaz de fazer-nos superar qualquer dificuldade.
A Deus pertence toda a sabedoria ao fazer prevalecer os tementes sobre os não tementes, ou os não tementes sobre os tementes, ou em reunir a todos em uma só região e o que disso decorre, tal como destinou Adão a comer da árvore e saísse do paraíso não teríamos a manifestação das intenções de Satanás, as quais passaram despercebidas aos anjos e que eram do conhecimento de Deus. Frente às adversidades, ficarão patentes os seguidores da senda reta e os que pedem ajuda a Deus ao caminhar nesta.