A Espanha Muçulmana – PARTE IV – O Califado Omíada

0
1554
Alhambra ou, preferencialmente, Alambra (em árabe: الحمراء; "a Vermelha") localiza-se na cidade e município de Granada, na comunidade autônoma da Andaluzia, na Espanha, em posição dominante no alto de uma elevação arborizada na parte sudeste da cidade. Trata-se de um rico complexo palaciano e fortaleza (alcazar ou al-Ksar) que alojava o monarca da dinastia nasarida e a corte do Reino de Granada. O seu verdadeiro atrativo, como noutras obras muçulmanas da época, são os interiores, cuja decoração está no cume da arte islâmica. Esta importante atração turística espanhola exibe os mais famosos elementos da arquitetura islâmica no país.
O Califado de Córdoba (929 – 1031) foi a forma de governo islâmico que dominou a maior parte da Península Ibérica e do Norte de África com capital em Córdoba. O Califado sucedeu ao Emirado Independente instaurado por Abdrahman I em 756.
O título de califa foi reclamado por Abdrahman III a 16 de Janeiro de 929, que já era reconhecido como emir de Córdoba. Todos os califas de Córdoba foram membros da dinastia omíada, a mesma que detinha o título de emir de Córdoba e governava praticamente o mesmo território desde 756.
O Califado de Córdoba foi a época de máximo esplendor político, cultural e comercial de Al-Andaluz. O Califado perdurou oficialmente até 1031, ano em que foi abolido, após um período de revoltas, fragmentando-se em múltiplos reinos conhecidos como Taifas. Os reinados de Abdrahman III (929-961) e o seu filho al-Hakam II (961-976) constituem o período de apogeu do califado omíada, em que se consolida o aparato estatal de Córdoba.
CORDOBA CALIFADO
A política exterior concentrou-se em três direções: os reinos cristãos do norte peninsular, o norte da África, e o Mediterrâneo. A influência do Califado sobre os reinos cristãos do norte chegou a ser tal que, entre 951 e 961, os reinos de Leão, Navarra e Castela, e o Condado de Barcelona, lhe rendiam tributo. As relações diplomáticas foram intensas.
A Córdoba chegaram embaixadores do conde de Barcelona Borrell, de Sancho II de Navarra, de Elvira Ramírez de Leão, de García Fernández de Castela e do conde Fernando Ansúrez, entre outros. A política do califado no Magrebe foi igualmente intensa, particularmente durante o reinado de al-Hakam II. Eventos importantes como a conquista de Melilha, Tanger e Ceuta.
Após a tomada de Melilha em 927, em meados do século X, os omíadas controlaram o triângulo formado por Argel, Siyilmasa e o oceano Atlântico. Um terceiro objetivo político do califado esteve orientada para o Mediterrâneo. O Califado manteve relações com o Bizâncio de Constantino VII, mantendo emissários em Constantinopla. O poder do califado estendia-se também para norte, e ao redor do ano 950 o Sacro Império Romano-Germânico intercambiava embaixadores com Córdoba.
Igualmente, alguns anos antes, Hugo de Arles solicitara salvo-condutos para que os seus barcos mercantes pudessem navegar pelo Mediterrâneo, dando ideia portanto do poder marítimo que Córdoba detinha. A partir de 942 foram estabelecidas relações mercantis com a República amalfitana, e no mesmo ano foi recebida uma embaixada da Sardenha.
O apogeu do califado manifestava-se na sua capacidade de centralização fiscal, que geria as contribuições e rendas do país: impostos territoriais, dízimos, arrendamentos, pedágios, impostos de capitação, taxas alfandegárias sobre mercadorias, bem como os direitos percebidos nos mercados sobre joias, aparelhos de navios, peças de ourivesaria, etc.
A opulência do califado durante estes anos fica refletida na palavras do geógrafo Ibn Hawqal: “A abundância e a despreocupação dominam todos os aspectos da vida; o gozo dos bens e os meios para adquirir a opulência são comuns aos grandes e aos pequenos, pois estes benefícios chegam até mesmo os operários e artesãos, graças às imposições leves, à condição excelente do país e à riqueza do soberano; além disso, este príncipe não faz sentir o gravoso das prestações e dos tributos.”  
Para realçar a sua dignidade e seguindo o exemplo de outros califas anteriores, Abdrahman III edificou a sua própria cidade palaciana, Medina Azahara. Esta foi a etapa da presença islâmica na península Ibérica de maior esplendor, embora de curta duração, pois na prática terminou em 1009 com a fitna (guerra civil) pelo trono entre os partidários do último califa legítimo, Hisham II, e os sucessores do seu primeiro-ministro ou “hájibe” Almansor.
Oficialmente, porém, o califado continuou até 1031, com Hisham III, ano em que foi abolido dando lugar à fragmentação do estado omíada em múltiplos reinos conhecidos como Taifas.
A economia do Califado baseou-se numa considerável capacidade econômica -fundada num comércio muito importante-, uma indústria artesã muito desenvolvida, e técnicas agrícolas mais desenvolvidas que em qualquer outra parte da Europa. Baseava a sua economia na moeda, cuja cunhagem teve um papel fundamental no seu esplendor financeiro.
A moeda de ouro do Califado tornou-se das mais importantes à época, sendo provavelmente imitada pelo Império Carolíngio. À cabeça da rede de urbes estava a capital, Córdoba, a cidade mais importante do Califado, que superava os 250 000 habitantes em 935 e aflorou os 500 000 no ano 1000 (alguns historiadores ainda falam de 1 000 000 de habitantes, baseando-se em recentes achados arqueológicos de dimensões superiores às acreditadas, confirmando muitas crônicas até então tidas por exageradas), sendo durante o século X uma das maiores cidades do Mundo e um centro financeiro, cultural, artístico e comercial de primeira ordem. Outras cidades importantes foram Toledo (37 000), Almería (27 000), Zaragoza (17 000) e Valência (15 000).
Abdrahman III não somente fez de Córdoba o centro nevrálgico de um novo império muçulmano no Ocidente, mas converteu-a na principal cidade da Europa Ocidental, rivalizando ao longo de um século com Bagdá e Constantinopla (capitais do Califado Abássida e do Império Bizantino, respectivamente) em poder, prestígio, esplendor e cultura. Segundo fontes árabes, sob o seu governo, a cidade alcançou o milhão de habitantes, que dispunham de mil seiscentas mesquitas, trezentas mil moradias, oitenta mil lojas e inúmeros banhos públicos.
Este califa omíada foi também um grande impulsionador da cultura: dotou Córdoba com cerca de setenta bibliotecas, fundou uma universidade, uma escola de medicina e outra de tradutores do grego e do hebraico para o árabe. Fez ampliar a Mesquita de Córdoba, reconstruindo as ameias, e mandou construir a extraordinária cidade palaciana de Madinat al-Zahr, na qual residiu até à morte.
O aspecto do desenvolvimento cultural não é menos relevante com a chegada ao poder do califa al-Hakam II, a quem é atribuída a fundação de uma biblioteca que teria atingido os 400 000 volumes. Talvez isso provocou a assunção de postulados da filosofia clássica -tanto grega quanto latina- por parte de intelectuais da época como foram Ibn Masarra, Ibn Tufail, Averróis e o judeu Maimônides, embora os pensadores de Al-Andalus se destacassem, sobretudo, em medicina, matemáticas e astronomia.
Califas de Córdoba (929–1031) – Este califado se resumia à Espanha e partes do Marrocos:
  • Abd-ar-Rahman III – 929–961
  • Al-Hakam II – 961–976
  • Hisham II al-Hakam – 976–1009
  • Muhammad II – 1009
  • Sulayman ibn al-Hakam – 1009–1010
  • Muhammad II, restaurado – 1010
  • Hisham II al-Hakam, restaurado – 1010–1013
  • Sulayman ibn al-Hakam, restaurado – 1013–1016
  • Ali ibn Hammud al-Nasir (Hamúdida) – 1016-1018
  • Al-Qasim ibn Hammud al-Ma’mun (Hamúdida) – 1018-1021
  • Abd ar-Rahman IV – 1021–1022
  • Yahya ibn Ali al-Mu’tali (Hamúdida) – 1021-1023
  • Al-Qasim ibn Hammud al-Ma’mun (Hamúdida) – 1023
  • Abd ar-Rahman V – 1022–1023
  • Muhammad III – 1023–1024
  • Yahya ibn Ali al-Mu’tali (Hamúdida) – 1025-1026
  • Hisham III – 1027–1031