Já pensou se a história fosse contada sob o olhar do oprimido? Certamente, hoje teríamos uma outra visão do contexto da época. Provavelmente, haveria uma consciência libertadora e uma forte auto-estima habitaria mais corações e almas do povo que construiu este país.
É sob este prisma que o CDIAL – Centro de Divulgação do Islam para a América Latina, em parceria com o MNU Movimento Negro Unificado, realiza a Exposição sobre o Levante dos Malês durante a Semana da Consciência Negra, na Universidade de São Paulo – USP Leste.
O evento acontece entre os dias 16 e 19 de novembro e terá palestra sobre o Levante dos Malês no dia 18 (quinta-feira). Veja, abaixo, a programação completa, endereço, datas e horários.
O que foi o Levante dos Malês
Na madrugada do dia 25 de janeiro de 1835, em pleno período colonial, aconteceu em Salvador, a revolta de africanos muçulmanos. O movimento de 1835 é conhecido como Revolta dos Malês. A expressão malê vem de imalê, que na língua iorubá significa muçulmano.
A revolta não foi um levante sem direção, um simples ato de desespero, mas sim um movimento político organizado, onde tomar o governo constituía um dos principais objetivos dos rebeldes. Os lideres da revolta, na maioria muçulmana, se utilizaram do conhecimento da língua árabe para articular o levante.
O Levante se configura como um dos mais significativos episódios de luta contra as crueldades do sistema escravista, que se baseava na submissão e na exploração do ser humano. Há muito tempo procurávamos trazer uma contribuição mais especifica sobre esse fato histórico, resgatando a narrativa dos principais pesquisadores sobre o tema através de um outro olhar.
Fica então esse legado de uma referência que a escravidão não foi aceita de forma dócil e passiva como muitos historiadores insinuaram, pelo contrário, constitui uma linha de resistência histórica impossível de ser negada e que viabilizou passo a passo os avanços sociais, políticos, econômicos e culturais, hoje vivenciados pela população negra brasileira, além de nos mostrar o indicativo de que essa luta não terminará até conseguirmos conquistar algo pleno e absoluto, que trará à humanidade seu verdadeiro valor, sem nenhum tipo de distinção étnico racial. Sejam Bem Vindos!
Conjuntura – parte 1
A Revolta do Malês explodiu na Bahia, em 1835, quando cerca de duas mil pessoas, entre africanos escravizados e libertos, praticamente tomaram a cidade de Salvador, inclusive atacando quartéis. Nela, misturavam-se várias nações africanas,a maior parte era de origem hausa e nagô. Além de tudo, e fundamentalmente, a maioria dos resistentes era de muçulmanos, caracterizando outra forma de diversidade na composição social.
Eles queriam o fim da escravidão, da propriedade privada e do direito de professar sua fé no Islam, que era a religião oficial. A reação das autoridades foi violentíssima, culminando com centenas de prisões, deportações e execuções.
A Revolta dos Malês foi denunciada antecipadamente por um casal de negros libertos como forma de gratidão aos seus senhores. Estes avisaram as autoridades que passaram a investigar e vasculhar a cidade a procura de vestígios do levante.
Após algumas revistas inúteis, uma patrulha chegou a uma casa na ladeira da Praça, por volta de 1 hora da madrugada. Lá, dois africanos libertos, Manoel Calafate e Aprígio, e mais dezenas de outros africanos, davam os últimos retoques na rebelião que deveria iniciar em cerca de três horas.
Quando a patrulha chegou à porta do local onde estavam os africanos reunidos, “ela foi aberta subitamente para dar passagem a um número estimado de 50 a 60 africanos, que saíram atirando, agitando suas espadas, aos gritos de ‘mata-soldado’ e palavras de ordem em língua africana”
Os rebeldes seguiram em várias direções, mas o grupo mais expressivo seguiu em direção à Praça do Palácio. Lá, tentaram tirar da cadeia o mestre muçulmano Pacífico Licutã e dar fuga a outros presos africanos. Mas, sob intenso tiroteio, o grupo recuou.
Nessas alturas, o número de rebeldes tinha aumentado consideravelmente, pois vários deles foram despertados no meio da madrugada, avisados da antecipação forçada dos planos. Os insurgentes desceram, então, até a Praça do Teatro (hoje Praça Castro Alves), onde receberam a adesão de outros grupos de africanos.
A partir daí, os confrontos tornaram-se cada vez mais intensos em vários locais de Salvador, incluindo violentos choques em frente a quartéis. A delação havia forçado os revoltosos a improvisar a resistência à repressão armada, levando-os a agitados deslocamentos pela cidade. Deslocando-se já do Pelourinho para a Baixa do Sapateiro, mataram dois mulatos e prosseguiram até a Cidade Baixa.
Tentaram abandonar a cidade em direção a Itapagipe, mas foram interceptados em Água de Meninos, ainda de madrugada, onde se deu o confronto final da revolta de 1835.
Foi uma batalha desigual: rebeldes a pé contra soldados a cavalo e a infantaria. A luta tornou-se uma caçada humana. Os africanos tentavam escapar da cavalaria. Muitos fugiram para o mato e outros morreram afogados, tentando fugir a nado.
Pela manhã, contavam-se 19 africanos mortos e outros 13 prisioneiros feridos. Existe ainda um relato dando conta que dois grupos de escravos, entre cinco e seis horas da manhã, ainda tentaram uma mobilização à luz do dia nas ruas de Salvador. Um desses grupos, formado por seis escravos, ainda rumou para Água de Meninos, onde foram mortos em minutos.
Apesar das autoridades terem frustrado o levante, a Revolta dos Males deixaria sua marca na historia e teria reflexos em todo o Brasil, mudando a forma como as elites encaravam os africanos.
Conjuntura parte 2
Os africanos muçulmanos eram conhecidos como malês, na Bahia, e que chegaram em grande número entre o fim do século XVIII e início do XIX, provenientes da costa do Benin.
Dentre eles, os nagôs eram a maioria (cerca de 30%). Era nagô também a maioria dos rebeldes e dos líderes do movimento (dos seis líderes identificados com precisão, cinco eram nagôs, sendo três escravos). Depois deles, os hausas tiveram a participação mais significativa. Além de nagôs e hausas, havia também os jeje, os tapa, os mina, dentre outros.
Na escravidão urbana os cativos gozavam de maior independência do que na escravidão rural, e isso facilitou muito a organização do movimento de 1835. Em geral, os africanos percorriam por toda a cidade trabalhando para seus próprios senhores ou, principalmente, contratados por terceiros para serviços eventuais. Muitos trabalhadores escravos sequer moravam na casa senhorial.
Chamados negros ou negras de ganho, e também de ganhadores ou ganhadeiras, esses homens e mulheres escravizados contratavam com seus senhores entregar certa quantia diária ou semanal de dinheiro, e tudo que ultrapassasse esta quantia podiam embolsar.
O trabalhador africano sob aquele regime de escravidão que mesmo na sua intensa jornada de trabalho conseguisse poupar muito dinheiro podia após cerca de nove ou dez longos anos comprar sua liberdade, e muitos assim o fizeram.
Africanos independentemente da situação que viviam no regime colonial ( escravizados ou libertos) com freqüência trabalhavam e viviam juntos, desempenhando as mesmas tarefas, morando nas mesmas casas. No trabalho de rua organizavam se em associações chamadas cantos de trabalho, nos quais se reuniam principalmente os da mesma etnia chefiados por um “capitão” encarregado de acertar os serviços desempenhados pelo grupo.
Assim associados enfrentavam o trabalho diário e desenvolviam laços de amizade e solidariedade que constantemente se desdobravam em ações políticas. Esses grupos de trabalho foram essenciais na mobilização dos africanos para a revolta em 1835 e em outras ocasiões. Enquanto esperavam por serviço nas esquinas onde se reuniam, os africanos iam formulando e aperfeiçoando suas idéias de liberdade e de ataque à escravidão na Bahia.
Influência Haitiana
Não bastasse ser a primeira colônia americana a se libertar do julgo metropolitano, coube ao Haiti, na época chamado de Ilha de São Domingo, trazer os ventos da liberdade, igualdade e fraternidade soprados para a América, pelas mãos de um ex-escravo Toussaint L’Ouverture.
Coube a liderança de L’Ouverture, em 1793, o levante escravo iniciado pelo escravo liberto Vicent Ogé, morto em 1791, em um momento crucial do levante, onde os rebeldes estavam prestes a capitular por um acordo imposto pelos senhores brancos aos lideres da rebelião. L’Ouverture sabia que os senhores apenas estavam tentando ganhar, enquanto aguardavam reforços para esmagar as forças rebeldes.
A partir desse momento, liderados por Toussaint L’Ouverture, os haitianos continuam bravamente sua luta revolucionária. Os enfrentamentos entre escravos e senhores duraram 12 anos, até 1804, infligindo derrotas importantes, tanto às forças locais formadas pelos senhores de escravos, quanto às forças inglesas enviadas à ilha, que somavam 60 mil soldados.
Também, derrotaram os 43 mil soldados do invencível exército francês de Napoleão Bonaparte. Mas, no ano de 1803 Toussaint L’Ouverture é preso pelo exercito francês e conduzido à Europa, onde morre, em uma prisão nos Alpes suíços.
Embora tenha tido líderes letrados, que foram influenciados pelas idéias francesas, a revolução do Haiti foi levada a cabo pela maioria escrava analfabeta. Para um dos líderes da revolução haitiana, Jean Jaques Dessalines, o general negro que levou a cabo a revolução e a consequente independência do Haiti, em 1804 a liberdade antes de tudo queria dizer o fim da escravidão.
Um dia após o Levante dos Malês – A histeria coletiva das elites brasileiras:
Se a partir do final do século XVIII, o perigo iminente de uma revolução negra de grandes proporções no Brasil, como a de São Domingos, esteve sempre presente na consciência das elites dominantes e camadas livres brasileiras – em 1805, o retrato de Dessalines decorava medalhões de milicianos negros no Rio de Janeiro -, tal perigo se fazia presente no seio da sociedade baiana, mais do que nunca, após 25 de janeiro de 1835, e precisava ser prontamente eliminado.
Aqui e ali surgiam boatos de novas insurreições escravas. Notícias falsas de assassinatos de famílias brancas e senhores de engenho por negros rebeldes, aumentavam, ainda mais, o clima de medo e a fúria dos vencedores.
Humilhações, espancamento e frequentes assassinatos atingiam de forma indiscriminada, africanos pacíficos e inocentes. Se as camadas livres se sentiam ameaçadas, os africanos estavam submetidos a um verdadeiro terror.
Depois do Levante, as autoridades policiais da Bahia se concentraram na tarefa de devassar a vida da comunidade africana de Salvador. Qualquer objeto material da cultura africana, não só abadás, tessubás ou patuás, mas também, instrumentos musicais, tambores ou colares, encontrados nas casas vasculhadas pela polícia em 1835, se tornavam provas incriminatórias.
Nesse sentido, o governo regencial priorizou o controle dos negros escravizados e de outros grupos que pudessem auxiliá-los durante as revoltas, pondo em funcionamento todo aparato jurídico institucional aprovado pelo governo em 1830.
Dentro e fora do Brasil foram inevitáveis as comparações entre o Levante Malê da Bahia e a Revolução de São Domingos. Afinal de contas, para seus contemporâneos, as duas sociedades eram profundamente marcadas pelo escravismo e possuíam um grande número de escravos sob seus domínios. No exterior, importantes jornais da Europa e EUA davam destaque para a rebelião.
No Brasil ela foi capaz de suscitar uma acalorada discussão sobre os limites do tráfico de escravos e as contradições no processo de inserção do negro na sociedade brasileira, em um contexto aonde a intelectualidade abolicionista brasileira criticava abertamente, através da imprensa, o tráfico ilegal e a escravidão no Brasil:
“É tempo de acabar com a escravidão, que tanto desonra a nossa civilização; que é uma vergonhosa contradição com os princípios liberais que professamos, conservar homens escravos, e perpetuamente.” Jornal O Comércio ( Reis 2004:515).
Características dos malês – parte 1
A religião foi talvez a força ideológica-cultural mais poderosa de moderação das diferenças étnicas sociais no interior da comunidade africana, embora tenha falhado em unir africanos e crioulos. Pelo fato de haver ter sido um meio de solidariedade inter-étnica, o Islam ajudou a promover a unidade entre muitos africanos. O Islam representou um forte fator de mobilização e, obviamente, organizou os resistentes de maneira sofisticada. Ao mesmo tempo, os lideres malês não negligenciaram a busca de aliados fora do campo muçulmano, no que foram favorecidos pela etnicidade. Nagôs muçulmanos e não muçulmanos participaram do levante de 1835.
O Islam foi uma poderosa força ideológica e organizacional, e articulou politicamente a ira dos escravizados e libertos africanos contra os beneficiários da exploração de classe e da opressão étnica. A religião esteve entrelaçada com classe e etnia e todas devem ser consideradas como fatores dinâmicos que possibilitaram a rebelião de 1835.
As guerras de nações, muitas vezes inspiradas em deuses étnicos guerreiros, antecederam e sucederam o expansionismo muçulmano na África Ocidental. Na Bahia os malês tentaram aproveitar a militância “tribal” dos escravizados vindos da África e não há evidência de que seu projeto de rebelião tivesse como objetivo a imposição do Islam sobre outros africanos, e muito menos massacre destes, todos africanos foram considerados pelos malês aliados potencias, e todos os baianos, sobretudo os brancos, adversários.
Só em salvador os africanos escravizados e libertos, representavam 33% de uma população total de aproximadamente 65 500 habitantes, em 1835.
A revolta não foi um levante sem direção, um simples ato de desespero, mas sim um movimento político, no sentido de que tomar o governo constituía um dos principais objetivos dos rebeldes. a Bahia malê seria uma nação controlada pelos africanos, tendo à frente os muçulmanos. Talvez a Bahia se transformasse num país islâmico ortodoxo, talvez num país onde as outras religiões predominantes entre os africanos e crioulos (o candomblé e o catolicismo) fossem toleradas.
Características dos malês – parte 2
Apesar de apoiados por africanos não-muçulmanos, que também entraram na luta, os malês foram os responsáveis por planejar e mobilizar os rebeldes. Suas reuniões — feitas nas casas de libertos, nas senzalas urbanas, nos cantos de trabalho — misturavam conspiração, rezas e aulas em que se exercitavam a recitação, a memorização e a escrita de passagens do Corão, o livro sagrado do islamismo.
O próprio levante foi marcado para acontecer no final do mês sagrado do Ramadã, o mês do jejum dos muçulmanos. Os malês foram para as ruas guerrear usando um abadá branco, espécie de camisolão tipicamente muçulmano, além de também carregar em volta do pescoço e nos bolsos amuletos protetores, que eram cópias em papel de rezas e passagens do Corão dobradas e enfiadas em bolsinhas de couro ou pano.
Esses amuletos eram confeccionados por mestres muçulmanos, muitos deles líderes da revolta, que teriam dado a seus seguidores suas bênçãos e a certeza da vitória. Cientes de que constituíam minoria na comunidade africana da Bahia, composta de escravos e libertos de diferentes grupos étnicos e religiosos, os malês não hesitaram em convidar escravos não-muçulmanos para o levante. Neste sentido, a identidade e a solidariedade étnicas constituíram um outro fator de mobilização a entrar em jogo.
De fato identidade étnica e religiosa foi muito importante para deslanchar o movimento. A maioria dos muçulmanos que viviam na Bahia em 1835 era nagô. Apesar de na África, e mesmo no Brasil, outros grupos, como os hausas, serem mais islamizados do que os nagôs, coube a estes o predomínio no movimento de 1835.
Os nagôs islamizados não só constituíram a maioria dos combatentes, como a maioria dos líderes. Mais de 80 por cento dos réus escravos em 1835 eram nagôs, sendo eles apenas 30 por cento dos africanos de Salvador; dos sete líderes identificados, pelo menos cinco eram nagôs. Eram nagôs os seguintes líderes: os escravos Ahuna, Pacifico Licutan, Sule ou Nicobé, Dassalu ou Damalu e Gustard. Também nagô era o liberto Manoel Calafate. Os outros eram o escravo tapa Luís Sanim e o liberto hausa Elesbão do Carmo ou Dandará, que negociava com fumo.
Origens dos africanos na Bahia
Entre os africanos escravizados, a grande maioria (63 por cento) era nascida na África, chegando a 80 por cento na região dos engenhos de açúcar, o Recôncavo. Esses escravos eram trazidos de diversos portos da costa africana. Um grande número vinha de Luanda, Benguela, Cabinda, mas na época da revolta de 1835 a grande maioria era embarcada nos portos do golfo do Benim (portos de Ajudá, Porto Novo, Badagri, Lagos).
Foram alguns desses últimos grupos os mais diretamente ligados à revolta. Eles podiam ser de diversas origens, segundo a língua que falavam: iorubá, hausa, fon, mahi, nupes, bornus etc. Na Bahia a maioria desses escravos era conhecida por nomes diferentes daqueles que tinham na África: os de língua iorubá chamavam-se nagôs, os fon e mahi eram conhecidos como jejes, os nupes como tapas. Em 1835 a grande maioria dos escravos da Bahia nascidos na África era realmente de língua iorubá, cerca de 30 por cento. Eram como nagôs.
Muitos deles professavam a religião muçulmana, embora a maioria dos nagôs fosse de fato adepta do candomblé dos orixás. A cidade de Salvador tinha uma economia baseada na escravidão, que girava em torno da cana-de-açúcar produzida na região denominada de Recôncavo, terras que circundam a Baía de Todos os Santos. Ali também se plantava o fumo, que era exportado para a Europa e para a África. Na África o fumo era utilizado na compra de escravos.
A influência do Islam na cultura africana
A influência do Islam na cultura africana é inegável e pode ser constatada através de comportamentos específicos dos escravos malês. A mais marcante seria a rebeldia constante contra a condição de escravo que sempre os caracterizou. Não que os escravos não-islamizados aceitassem passivamente a escravidão, mas diferiam muitas vezes na maneira de resistir a ela.
Esta rebeldia, se analisada pelo âmbito religioso, teria origem na crença de todo muçulmano de que deve se submeter somente a Deus. Dentro desta perspectiva, seria mais digno morrer lutando para ser um homem livre que viver como escravo.
O exemplo de Bilal, escravo abissínio que se tornou posteriormente o primeiro “muezzin” da comunidade muçulmana, deve ter influenciado profundamente os negros islamizados, a ponto de ser citado pelo líder do levante malê, Licutan.
Bilal teria se convertido ao Islam ainda como escravo. Seu amo era um dos mais ferrenhos combatentes da primeira geração de muçulmanos e ao tomar conhecimento de sua conversão, passou a torturá-lo para que renunciasse à sua crença.
Quando estava quase morto foi comprado por um dos primeiros muçulmanos e libertado, tendo alcançado posição de destaque na comunidade mulçumana. É significativo que Licutan tenha dito se chamar Bilal em seu interrogatório.
Se a afirmação for verdadeira, indica a importância que os negros africanos atribuíam a figura deste escravo que se tornou um dos primeiros líderes muçulmanos, dando-lhe o nome de um companheiro fiel do profeta Muhammad ﷺ. Se a afirmação teve caráter apenas simbólico, retrata igualmente o significado da opção pela morte digna em confronto com uma vida de escravidão.