Quando a Premier League foi instituída na temporada 1992/1993, apenas um jogador era reconhecido como muçulmano – o meia espanhol Nayim (Mohammed Alí Amar), do Tottenham Hotspur. Atualmente, a primeira divisão inglesa conta com 60 jogadores que praticam os dogmas do Islam, provocando um efeito significativo na cultura do futebol praticado na terra da Rainha.

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Nayim (Mohammed Alí Amar) do Tottenham Hotspur 1992/1993

Em 05 de fevereiro de 2012, o Newcastle United enfrentou o Aston Villa no St. James’ Park. Aos 30 minutos do primeiro tempo, o atacante Demba Ba balançou as redes. Ele correu até canto da bandeirinha de escanteio, acompanhado do compatriota Papiss Cissé. Muçulmanos, ambos se prostraram, encostando a cabeça no chão, como em uma oração em agradecimento pelo gol marcado.

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Demba Ba e Papiss Cissé comemorando um gol

O fluxo crescente de jogadores muçulmanos tem sido alimentado pela internacionalização do futebol. Os olheiros aumentaram seu campo de pesquisa em busca de novos talentos e a Premier League se tornou um lugar mais diversificado. Jovens com origens em vilas do oeste africano ou arredores de Paris se tornaram estrelas globais.

Eles podem ter encontrado a riqueza e a fama jogando por clubes ingleses, mas muitos ainda se agarram a algo que está enraizado em sua identidade cultural, algo que os guia e os conforta quando as coisas ficam difíceis – a sua fé islâmica.

Quando um jogador do calibre de Demba Ba, que deixou o Chelsea na temporada passada para se juntar ao Beşiktaş da Turquia, diz que sua religião é algo sério, alguns podem argumentar que os clubes não podem deixar de ouvi-los. E há uma vontade genuína, por parte dos treinadores e dos clubes, em compreender e atender as necessidades religiosas de seus jogadores.

Os jogadores muçulmanos comem somente o que é permitido pela lei islâmica, têm a opção de tomar banho longe do resto da equipe e possuem tempo e espaço para orações. Até recentemente, todos os jogadores da Premier League escolhidos como “Homem do Jogo” ganhavam uma garrafa de champagne. O álcool é proibido para os muçulmanos. Quando Yaya Touré (Manchester City) se recusou a receber o prêmio durante uma entrevista ao vivo, os organizadores se viram forçados a alterar as premiações para se adequar à diversidade religiosa. O champagne foi retirado, e agora, os jogadores recebem um pequeno troféu.

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Yaya Touré jogador do Manchester City

Quando o Liverpool venceu a final da Copa da Liga Inglesa em 2012, os jogadores tiveram a sensibilidade de tirar as roupas do médico do time (Zaf Iqbal), que é muçulmano, para fora do vestiário para que não houvesse álcool espirrado em suas roupas.

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Dr. Zaf Iqbal médico do Liverpool

No entanto, há desafios para a gestão de jogadores muçulmanos e o Ramadan é um ponto de pressão particular. Como jogadores que não estão comendo ou bebendo por até 18 horas do dia podem atuar em um nível mais alto em mais de 90 minutos de um jogo? Alguns jogadores jejuam todos os dias. Outros podem jejuar durante treinos, mas não em um dia de jogo. Os clubes tendem a enfatizar algum tipo de compromisso, mas provavelmente não é um período fácil para jogadores e treinadores.

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Abou Diaby jodagor do Arsenal

“O Arsenal prefere que eu não faça jejum, mas eles entendem que este é um momento especial para mim e eles tentam acomodar as coisas para me fazer melhor”, disse o francês Abou Diaby, 27, volante do Arsenal.

Os acordos de patrocínio também têm sido uma fonte de tensão. As equipes que estampam empresas de apostas e de empréstimo colocam seus jogadores muçulmanos em uma posição difícil, já que isso significa que eles estão sendo usados ​​para promover atividades que contradizem os ensinamentos islâmicos. Papiss Cissé disse que conversaria com o Newcastle e com a nova patrocinadora, Wonga, pois estava preocupado com a possibilidade de comprometer sua crença islâmica ao ser visto promovendo a marca.

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Papiss Cissé jogador do Newcastle

Os torcedores também estão cada vez mais adaptados com a presença do Islam no futebol inglês. Quando Alan Pardew, técnico dos Magpies, sugeriu que o desempenho ruim de Demba no início da temporada 2011/12 se devia aos jejuns do atleta, a torcida começou a cantar, a cada gol marcado pelo senegalês, uma música com a quantidade de tentos assinalados após o Ramadan com “Just Can’t Get Enough” de fundo.

Nos parques de Newcastle-upon-Tyne, é possível ver crianças comemorando gols se ajoelhando como se estivessem em oração. Elas podem não entender completamente o que isso significa, mas este é um sinal de que as práticas muçulmanas estão se tornando uma parte mais familiar da cultura popular britânica.

Algumas das estrelas do futebol inglês que são muçulmanos:

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