Sua aparência era distinta – alto, cabelo avermelhado e cavanhaque, pele à sombra de faces coradas – mas ele estava vestido de forma conservadora, em um terno escuro, camisa branca, gravata estreita.

Como muitos hospedes do Hilton, rezou antes de se dormir. Mas ele também orou de madrugada, e não simplesmente de joelhos, mas em posição de sentido quase militar, a face na direção da cidade santa de Makkah, em seguida, baixando-se, em estágios precisos, para tocar de cabeça na terra.

El Hajj Malik El Shabazz.
El Hajj Malik El Shabazz.

Ele realizou o ritual de novo ao meio-dia. Então, saiu do hotel e pegou seu carro, na parte alta da cidade. Cerca de duas horas depois, chegou a um auditório no limite superior do Harlem, o Audubon Ballroom.

Naquela tarde, foi realizada uma reunião da Organization of Afro-American Unity. Apesar de Malik El-Shabazz liderar aquela organização, o palestrante era para ser um presbiteriano negro, o Rev. Milton Galamison. Por três horas, uma audiência de 400 negros se reunia, porém, Rev. Galamison não tinha aparecido. Assim, às 03h10 Malik El-Shabazz subiu ao palco.

Ele fez a habitual saudação muçulmana: As Salaam Alaikum – A paz esteja convosco. Apesar de haver muitos não-muçulmanos no local, muitos sabiam a resposta correta: Alaaikum As-Salaam. Mesmo com esta invocação à paz, três homens aproximaram-se, sacaram armas e atiraram contra Malcolm.

Ele foi levado para um pronto-socorro, registrado para atendimento como “John Doe”. O tratamento falhou, e às 3h30, John Doe foi declarado morto.

Malcolm Little nasceu em Omaha, Nebraska, em 1925. Era filho de James Earl Little, um pregador batista que defendia os ideais nacionalistas dos negros de Marcus Garvey. Ameaças vindas da organização racista Ku Klux Klan obrigaram a família a se mudar para Lansing, Michigan, onde seu pai seguiu com seus sermões. 

Em 1931, o pai de Malcolm foi brutalmente assassinado pela Legião Negra, uma entidade que defendia a supremacia branca. As autoridades de Michigan se recusaram a processar os responsáveis.

 

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Malcolm X e Martin Luther King.

Em 1937, Malcolm foi tirado da família por assistentes sociais. Nessa altura, com idade para começar a cursar o ensino médio, abandonou a escola e mudou-se para Boston, onde se envolveu cada vez mais com atividades delituosas.

Em 1946, aos 21 anos, Malcolm foi preso, acusado de roubo. Na prisão, se deparou com os ensinamentos de Elijah Mohamad, o líder da Nation of Islam (Nação do Islam), cujos membros eram conhecidos como Black Muslims. A Nação do Islam defendia o nacionalismo negro e o separatismo racial. As teses de Elijah Mohamad impressionaram vivamente Malcolm, que resolveu fazer um intenso programa como auto-didata. Trocou seu sobrenome por um simples “X” para simbolizar o roubo de sua identidade africana.

Seis anos depois, Malcolm foi libertado e se tornou ministro da Nação do Islam no Harlem. Ao contrário de líderes dos direitos civis, como Martin Luther King, Malcolm X defendia a autodefesa e a libertação dos afro-americanos “por todos os meios necessários”. Orador contumaz, Malcolm era admirado pela comunidade negra de Nova York e de todo o país.

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Malcolm X e Mohammad Ali pugislista considerado um dos melhores da história do esporte, eleito “O Desportista do Século” pela revista estadunidense Sports Illustrated em 1999.

Filosofia própria

A sinceridade e a firmeza de propósito de Malcolm se fazia presente quer seja nos púlpitos ou palanques e fora deles. Quem o ouvia e o conhecia não alimentava nenhuma dúvida quanto a integridade de sua ação e a coerência de seu discurso. No começo dos anos 1960, começou a elaborar uma filosofia mais franca que a de Elijah Mohamad, quem a seus olhos não defendia o bastante o movimento dos direitos civis. No final de 1963, Malcolm fala en público sobre o assassinato do presidente John Kennedy Jr. se resumiria em “quem semeia ventos colhe tempestade”. Isto levou Elijah Mohamad a acreditar que Malcolm se tornara demasiadamente poderoso e julgou que sua declaração era a oportunidade conveniente de suspendê-lo da Nação do Islam.

Alguns meses mais tarde, Malcolm deixou formalmente a organização e empreendeu a peregrinação à Makkah, onde ficou impactado com a ausência de discordância racial entre os muçulmanos. Voltou aos Estados Unidos como El-Hajj Malik El-Shabazz e em junho de 1964 fundou a Organização da Unidade Afro-americana, que defendia a identidade negra. Ele sustentou que o racismo e não a raça branca era o maior inimigo dos negros norte-americanos.

Em seus pronunciamentos Malcolm freqüentemente abordava sobre o fator psicológico e cultural que alimentava uma ideologia de inferioridade entre muitos cidadãos negros, denunciava o quanto lideranças ilegítimas contribuíam para essa situação. Com efeito, seu discurso buscava demonstrar como o sistema corrompia o homem negro levando-o à degradação espiritual, moral e física. Ao mesmo tempo, Malcolm jamais deixou de incentivar as pessoas a se auto-valorizarem, a exigirem seus direitos, a se instruírem a fim de atuarem de maneira organizada e principalmente a não se deixarem intimidar pelos racismo.

O novo movimento de Malcolm ganhou continuamente seguidores e sua filosofia mais moderada tornou-se cada vez mais influente no meio do movimento pelos direitos civis, especialmente entre os líderes do Comitê de Coordenação dos Estudantes Não-violentos.

De 6 a 13 de fevereiro de 1965 Malcolm viaja a Inglaterra e sua entrada na França é proibida pelas autoridades daquele país. Na madrugada de 14 de fevereiro uma bomba incendiária destrói sua casa. Dois dias depois num encontro na Igreja Metodista Corn Hill declara que morrerá sendo muçulmano porque é a única religião que defende a verdadeira justiça. Em 21 de fevereiro de 1965, Malcolm X foi alvejado mortalmente enquanto discursava.

Texto histórico

Você pode ler a carta que Malcom X escreveu a seus seguidores assim que completou a Peregrinação à Makkah. Um texto histórico e que serve de referência aos muçulmanos do mundo inteiro. Clique aqui e boa leitura.

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