O Gharb al-Ândalus era a parte mais ocidental do al-Ândalus, que corresponde a parte do atual território português. Em 711, os muçulmanas atravessaram o estreito de Gibraltar e deram início à conquista da Península Ibérica, o al-Ândalus.

O ocidente peninsular de influência mediterrânica, o Gharb al-Ândalus — corresponde aproximadamente aos limites da antiga Lusitânia — embora intensamente islamizado, não assumiu o protagonismo de outras regiões do al-Ândalus, resistindo sempre aos processos de centralização do califado de Córdova (Córdoba), ou posteriormente de Sevilha. O Gharb incluía cinco territórios principais correspondentes ao termo de Coimbra, ao estuário do Tejo, ao Alto Alentejo, ao Baixo Alentejo e ao Algarve.

Estes territórios estendiam-se ainda para as atuais Estremadura espanhola e Andaluzia Ocidental. Destacavam-se as cidades de Coimbra, Lisboa, Santarém, Silves, Mértola, Faro, Mérida e Badajoz.

O Gharb começou a perder terreno aquando da Reconquista, na qual os reis cristãos do norte da península, nomeadamente D. Afonso Henriques, começaram a conquistar o território para Sul. O fim do Gharb foi assinalado com a conquista do Algarve pelo rei D. Afonso III.

Reino do Algarve

O Reino do Algarve, foi um antigo reino que existiu na região do Algarve, em Portugal. O Algarve (do árabe “al-Gharb al-Ândaluz”, al-Gharb, «o Ocidente»; do “al-Andaluz”), foi considerado, durante séculos, e até à proclamação da República Portuguesa em 5 de Outubro de 1910, como o segundo reino da Coroa Portuguesa — um reino de direito separado de Portugal, ainda que de fato não dispusesse de instituições, foros ou privilégios próprios, nem sequer autonomia — na prática, era apenas um título honorífico sobre uma região/comarca que em nada se diferenciava do resto de Portugal.

Note-se, porém, que nunca nenhum rei português foi coroado ou saudado como sendo apenas “Rei do Algarve” — no momento da sagração, era aclamado como “Rei de Portugal e do Algarve” (até 1471), e mais tarde como “Rei de Portugal e dos Algarves” (a partir de 1471).

Primeira conquista

O título de “Rei do Algarve” foi pela primeira vez utilizado por Sancho I de Portugal, aquando da primeira conquista de Silves (Portugal), em 1189. Silves era apenas uma cidade do império almóada, posto que nesta altura todo o Andaluz se achava unificado sob o seu domínio.

Assim, D. Sancho usou alternadamente nos seus diplomas as fórmulas “Rei de Portugal e de Silves”, ou “Rei de Portugal e do Algarve”; excepcionalmente, conjugou os três títulos no de “Rei de Portugal, de Silves e do Algarve”.

O único motivo que pode justificar esta nova intitulação régia prende-se com a tradição peninsular, de agregar ao título do monarca o das conquistas efetuadas (assim, por exemplo, os Reis de Leão e Castela eram também “Reis de Toledo, de Sevilha, etc.”). Com a reconquista muçulmana de Silves, em 1191, o rei cessou de usar este título.

Reconquista

O império almóada viria a desagregar-se na Hispânia (Espanha) em 1234, dissolvendo-se em vários pequenos emirados, as taifas. O Sul de Portugal ainda em mãos muçulmanas ficou anexado à taifa de Niebla, na moderna Espanha; o seu emir, Musa ibn Mohammad ibn Nassir ibn Mahfuz, proclamou-se pouco tempo mais tarde “Rei do Algarve” (amir al-Gharb), posto que o seu Estado compreendia, de fato, a região mais ocidental do Andaluz muçulmano.

Ao mesmo tempo, as conquistas portuguesas e castelhanas para o Sul prosseguiam. Em reinado de D. Sancho II conquistaram-se as derradeiras praças alentejanas e ainda a maior parte do Algarve moderno, na margem direita do rio Guadiana; à data da sua deposição e posterior abdicação, restavam do Algarve muçulmano apenas pequenos enclaves em Aljezur, Faro, Loulé e Albufeira, os quais, devido à descontinuidade territorial e à distância que os separava de Niebla, se tornaram independentes do seu domínio.

Assim sendo, de fato, Sancho II de Portugal afigurar-se-ia como o segundo rei português a poder usar o título de rei do Algarve, na esteira de seu avô — o que provavelmente só não fez devido às suas outras preocupações internas, designadamente a guerra civil que o opôs ao seu irmão, o conde de Bolonha e infante Afonso.

Com efeito, foi este que, subido ao trono em 1248, se encarregou da conquista dos derradeiros enclaves mouriscos no Algarve, assumindo em 1249 o título de “Rei de Portugal e do Algarve”, que não mais deixaria de ser utilizado pelos seus sucessores até ao fim da monarquia em Portugal.

O rei de Niebla e emir do Algarve, para obstar às conquistas perpetradas pelos Portugueses nos seus territórios, fez-se vassalo de Afonso X de Castela (o qual passou por isso também a usar o título de Rei do Algarve entre as suas múltiplas conquistas), cedendo-lhe o domínio do Algarve português.

Assim, muito provavelmente, a intitulação de Afonso III de Portugal serviria como reação a esta tomada de posição pelo vizinho castelhano, destinando-se a fortalecer os direitos do monarca português sobre a região em causa (pois que, como já foi dito, à intitulação e ao estatuto de reino não correspondia nem foros nem privilégios nem autonomia própria).

A questão acabou por ser dirimida entre os soberanos de Castela e de Portugal, pelo tratado de Badajoz de 1267; o rei Afonso X desistia das suas pretensões sobre o antigo Gharb al-Ândalus, fazendo do seu neto D. Dinis o herdeiro do trono do Algarve, o que ditava a sua incorporação a prazo na coroa portuguesa. Reservava, porém, a utilização do título por si e pelos seus descendentes, dado ter adquirido em 1262 os restos do reino de Niebla/ Algarve, situados já além do Odiana – os demais reis de Castela, e depois da Espanha, até à subida ao trono da rainha Isabel II (1833), continuaram a usá-lo entre os seus diversos títulos.

Arte islâmica em Portugal

A Arte Islâmica desenvolveu-se em Portugal durante a presença muçulmana do país (712 – 1249). O termo Arte Islâmica refere-se à unidade criativa de uma arte e uma arquitetura próprias de uma civilização de enorme extensão geográfica. Nos primeiros tempos do Islam surgiu uma arte rica e variada baseada na tradição clássica, na arte bizantina, persa e de outros povos orientais conquistados. A originalidade das estruturas arquitetônicas e dos motivos ornamentais deram origem a uma arte própria, tipicamente muçulmana.

A ornamentação é sem dúvida, um dos aspectos que mais contribuiu para a unificação da arte islâmica. A grande profusão de superfícies decoradas faz com que as estruturas fiquem parcialmente escondidas, num fenômeno preenchido de todos os espaços com decoração conhecido como horror ao vazio.

A repetição de motivos – geométricos, cosmológicos, a caligrafia e motivos de origem vegetal estilizados – e a combinação de materiais e texturas originam um efeito tridimensional que confere aos edifícios uma certa aura de mistério e harmonia, para o que contribuem igualmente a luz e a presença de água. Outros dos elementos decorativos mais característicos são os adornos em estuque trabalhado.

A rejeição de qualquer imagem figurativa (aniconismo) é também característica da arte islâmica. Deve-se ao receio da idolatria, ou seja, da veneração de imagens que simbolizassem seres do outro mundo.

Na arquitetura destacam-se os edifícios de carácter religioso, as mesquitas, cuja origem foi a casa do profeta Muhammad ﷺ em Madina na atual Arábia Saudita. As primeiras estruturas de ordem religiosa apareceram depois da deslocação do centro do poder de Madina para Damasco e Jerusalém: a Cúpula do Rochedo, em Jerusalém, e também a Mesquita de Damasco.

Arte Islâmica no Gharb al-Ândalus

Com o Emirado Omíada de Córdoba, que se manteve até 1031, o al-Ândalus, transformou-se no ponto mais importante do Ocidente Islâmico. Desenvolveram-se estilos culturais muito característicos devido à situação geográfica do território, ao contato entre as culturas cristã e muçulmana e à influência dos conquistadores anteriores: romanos e visigodos. A arte no Gharb foi bastante idêntica à do resto da Península Ibérica, embora os vestígios que chegaram até nós não tenham a grandeza espetacular de Córdoba, Sevilha ou Granada, devido à sua posição periférica em relação aos grandes centros de poder.

O urbanismo, a arquitetura, tanto civil como militar e religiosa, e os objetos para uso diário, foram os campos artísticos mais desenvolvidos na arte islâmica no Gharb al-Ândalus. O arco em ferradura, de influência visigótica, é sem dúvida uma imagem marcante da civilização muçulmana em Portugal e na Espanha. A sua imagem, ligada aos mais conhecidos monumentos civis e religiosos, vai rapidamente confundir-se, de forma definitiva, com a própria arte islâmica.

A pintura e a escultura foram áreas pouco desenvolvidas, por questões religiosas, exceto no que se refere às artes decorativas, com o fim de ornamentar edifícios e objetos. São notáveis os capitéis de colunas. A cerâmica teve um papel muito importante no quotidiano das alcáçovas e alcarias islâmicas. Muitas das formas e utilizações dos objetos produzidos pelos artesãos da época perduraram até aos nossos tempos.

Urbanismo

Após a conquista muçulmana do século VIII, a região de Sintra foi ocupada, erguida a primitiva fortificação da penedia, entre o século VIII e o IX. As cidades islâmicas estava localizadas em pontos estratégicos do Gharb, dominando em geral, importantes cursos de água, como por exemplo: Al-Uśbuna (Lisboa), Santarin (Santarém), Kulūmriyya (Coimbra), Mārtula (Mértola) ou Silb (Silves). As cidades islâmicas reaproveitaram espaços, estruturas e materiais do período romano.

mertola3
Castelo de Mértola que a partir do século VIII conheceu a dominação muçulmana, os quais foram responsáveis pela remodelação das defesas deste próspero povoado.

Na alcáçova fortificada ficava o alcácer, com funções exclusivamente militares, e uma zona residencial, onde se situavam os paços do alcaide, as dependências da corte e as residências, entre outros, militares e funcionários ligados ao palácio. Os arrabaldes eram uma espécie de subúrbios, zonas residenciais situadas fora das muralhas.

silves
O Castelo de Silves, no Algarve, em Portugal. Constitui-se no maior castelo da região algarvia, sendo considerado como o mais belo exemplo da arquitetura militar islâmica no país.

O Gharb al-Ândalus era a parte mais ocidental do al-Ândalus, que corresponde a parte do atual território português. Em 711, os muçulmanas atravessaram o estreito de Gibraltar e deram início à conquista da Península Ibérica, o al-Ândalus.

O ocidente peninsular de influência mediterrânica, o Gharb al-Ândalus — corresponde aproximadamente aos limites da antiga Lusitânia — embora intensamente islamizado, não assumiu o protagonismo de outras regiões do al-Ândalus, resistindo sempre aos processos de centralização do califado de Córdova (Córdoba), ou posteriormente de Sevilha. O Gharb incluía cinco territórios principais correspondentes ao termo de Coimbra, ao estuário do Tejo, ao Alto Alentejo, ao Baixo Alentejo e ao Algarve.

Castelo dos Mouros Sintra
Castelo dos Mouros em Sintra em Portugal – Construído pelos muçulmanos no século IX.

Arquitetura

Na arquitetura islâmica foram adotadas várias soluções e técnicas construtivas para a resolução de problemas de ordem estrutural dos edifícios. Os arcos, nomeadamente os arcos de ferradura, ocupam um lugar importante.

Arcos de ferradura no Castelo de Silves
Arcos de ferradura no Castelo de Silves, Portugal.

As arcadas com colunas com capitéis, por vezes ricamente trabalhados foram uma das soluções estruturais também utilizadas. Foram poucos os arcos em ferradura que em Portugal resistiram até aos dias de hoje: na Porta da Vila de Faro, um dos acessos à medina de Elvas, em quatro portas da Mesquita de Mértola encontramos ainda alguns desses arcos em muito bom estado de conservação.

Quanto aos capitéis, embora muitos tenham chegado aos nossos dias, apresentam-se fora do seu contexto inicial. As paredes de taipa foram também fundamentais como material de construção de muitas estruturas. A taipa era por vezes intercalada com pilares de alvenaria. No caso das taipas mais pobres, o revestimento com cal era essencial para a longevidade da obra.

Árabes/Muçulmanos – Origem, expansão e presença em Portugal

É interessante saber que em Portugal foram sendo nomeados de várias maneiras conforme o ângulo de análise: Muçulmanos (aqueles que se submetem a Deus); Islamitas (os que praticam o islamismo); Sarracenos (os que conquistaram a Península Ibérica); Mouros (os naturais do Maghrebe que se encontravam na Península Ibérica).

Ao chegar na Península Ibérica (Al-Ândalus), os muçulmanos souberam aproveitar a decadência do reino visigótico que conquistaram em 711. Os Árabes chegaram até às Astúrias (montanhas a noroeste da Península Ibérica), onde se estabeleceram os povos cristãos peninsulares e donde irá partir mais tarde a expulsão dos invasores (Reconquista Cristã) e daí nasceria Portugal. Ainda avançaram para norte, no Reino Franco (atual França), mas acabaram recuando em Poitiers (732).

Sabe-se que no Gharb – território que vem a ser Portugal – “a estratégia de ocupação operada nesse território pelos primeiros muçulmanos basear-se-ia mais no estabelecimento de consensos e na elaboração de acordos com as populações”.

Procuravam islamizar estas, que se denominarão Moçárabes. Estes gozavam de liberdade de culto, tinham leis próprias. Como havia muitos contatos entre as populações, as marcas árabes são muito diversificadas em toda a Península, como veremos depois.

Durante o movimento da Reconquista, iniciado ainda no século VIII, os Árabes começaram a ser exterminados, ou escravizados. Houve, no entanto, alguns que foram protegidos pelos reis portugueses. Temos como exemplo a carta de foral que em 1170 o rei D. Afonso Henriques deu às populações mouriscas de Lisboa, Almada, Alcácer e Palmela, que se lhe submeteram. Quando eram muitos, como em Lisboa, Setúbal, Loulé, Silves, Beja, etc., viviam em comunas ou comuns governados por um alcaide. Aos bairros chamavam-se mourarias (este nome ainda hoje permanece num dos pitorescos bairros de Lisboa).

Como os Judeus, usavam vestuário e sinais específicos. Nestes bairros estavam incomunicáveis com os cristãos entre o pôr e o nascer do sol e a partir do século XIV foram sujeitos a penas graves se contrariassem esta lei. Estas normas foram mantidas durante séculos, o rei D. Afonso Henriques teve um filho de uma moura e D. Afonso III uma filha. Ao contrário dos Judeus a principal ocupação era a agricultura, embora também fossem sapateiros, ferreiros, oleiros. Pagavam à Coroa duros impostos: de capitação, pago desde o nascimento; dízimo dos produtos colhidos em terra que explorassem; imposto sobre o gado, mel e cera; sobre todos os bens que usassem ou possuíssem; sobre o trabalho; sobre compra e venda, etc., etc.

Com D. Manuel I, em 1496, foram apanhados pelo decreto de Expulsão dos Judeus ou saíam do país ou se batizavam ao cristianismo, tomando o nome de mouriscos ou mudéjares. Muitos foram acusados de praticarem o islam pelo Tribunal da Inquisição. Todavia nos processos daquele Tribunal aparecem vários muçulmanos, alguns com nomes sesimbrenses e naturais da vila de Sesimbra, apanhados no século XVII nas malhas do Santo Ofício, embora por pouco tempo:

– Manuel Rodrigues, marinheiro, cativo pelos mouros, fez corso contra cristãos, morador no Maranhão, Brasil.
– António Cacheiro, marinheiro, morador em Sesimbra, filho de João Farto e de Catarina Gaspar.
– Sebastião Correia Peixoto, morador em Mazagão, filho de Diogo Preto Peixoto e de Brites de Deus Correia.

Não podemos deixar de referir, pela sua crueldade, castigos infligidos aos Árabes: “…que se corte o pé ao mouro que fuja.”

Em 1249 o domínio árabe terminou definitivamente no território que hoje é Portugal e só em 1492 no Reino de Granada, na Espanha. A partir do século XVII há poucas informações de Árabes/Mouros, porque, ou se misturaram com a população portuguesa, ou conseguiram fugir para zonas muçulmanas.

Os Árabes/Muçulmanos: a Herança e seu Legado em Portugal

Os Árabes/Muçulmanos entraram na Península Ibérica em 711 e focaram até 1249 em Portugal e 1492 na Espanha, tiveram uma influência grande em várias áreas, algumas das quais ainda hoje estão a ser estudadas. Todavia é preciso recordar vários aspectos: as marcas são maiores no sul mediterrânico, onde permaneceram mais tempo; durante séculos eles foram encarados como invasores e por isso a sua cultura desvalorizada e até destruída, como aconteceu, por exemplo, em Lisboa (Lisbûna em árabe).

Hoje depois de muitos estudos, há muitas escavações e por isso sabe-se que o legado islâmico no território que hoje é Portugal, embora menor que no oriente peninsular (Espanha), é imenso.

O povo árabe nascido na Península arábica, devido ao comércio que praticava entre o oriente e ocidente, conheceu vários povos com culturas diversas, das quais fez uma amálgama, originando a cultura islâmica/árabe. Esta é influenciada por povos tão distintos como gregos, romanos, bizantinos, indianos, persas, egípcios, judeus, hindus e chineses.

Da China os Árabes trouxeram para a Europa invenções importantes, como a bússola, um dos contributos para o avanço dos conhecimentos náuticos e geográficos em Portugal. Veio o papel, tendo fundado na Península Ibérica a primeira fábrica europeia; a pólvora, que contribuiu para revolucionar as técnicas militares. Divulgaram conhecimentos matemáticos, filosóficos e científicos, aos quais foram acrescentando novos conceitos de Álgebra, Medicina, Astronomia e Aritmética. Espalharam, por exemplo, o sistema de numeração arábico, a que chamamos árabe ou decimal.

À semelhança dos Romanos mantiveram um estilo de vida mediterrânico, urbano, luxuoso, visível, não tanto em Portugal, mas nas mesquitas e nos palácios da Espanha, onde o tamanho, a decoração, as casas de banho, as fontes e os jardins manifestam fartura e riqueza. No entanto as cidades de Coimbra, Lisboa, Faro, Évora e outras, foram cidades islamizadas, onde ainda se encontram traços de muralhas, portas, traçados urbanos e vestígios de mesquitas.

faro
De acordo com alguns historiadores a Igreja de Santa Maria de Faro foi erguida sobre as fundações de uma mesquita. O edifício atual foi começado em 1251, dois anos após a reconquista cristã do povoado, por ordem do Arcebispo de Braga D. João Viegas.

Erigida sobre uma mesquita após a reconquista da cidade dos mouros pelo Rei D. Dinis, mas sabe-se que o edifício atual teria sido iniciado entre meados e finais do século XII. Mas em Mértola, a mesquita foi transformada e uma igreja, embora com algumas modificações.

A Igreja Matriz de Mértola é um reaproveitamento cristão da antiga mesquita muçulmana dos séculos XII-XIII. Foi com os cavaleiros da Ordem de Santiago, em 1238, depois de sagrado para o uso do ritual cristão, que este edifício recebeu a sua primeira intervenção, que lhe alterou a sua primitiva configuração de mesquita.Hoje, a Matriz de Mértola apresenta uma temática mudéjar do século XVI. Mas, apesar disso, torna-se possível, a partir de certos elementos arquitetônicos e decorativos, reconstituir a mesquita.

mertola
A antiga mesquita de Mértola, o mais emblemático monumento da cidade, foi construída na segunda metade do século XII, posteriormente foi transformada em uma igreja cristã: Igreja de Nossa Senhora da Assunção de Mértola (Igreja Matriz).

mertola2

Merece referência a estrutura quadrangular de cinco naves, com a central mais alargada, o nicho poligonal do “mihrab” – nome dado ao nicho que integra os grandes locais de oração muçulmanos e que tinha por finalidade indicar aos fiéis a direção de Makkah – com decoração de arcos polilobados em gesso, e as colunas de suporte da mesquita, ordenadas em fiadas de seis, que sustentavam as quatro sequências de arcos. Uma torre quadrangular, até aos finais do século XVII, foi a nota dominante nos cinco telhados de duas águas que cobriam o edifício.

Atualmente, ainda subsistem quatro portas de arco ultrapassado com o seu alfiz. O seu exterior, com a frontaria coroada por ameias intercaladas por grandes coruchéus, deve-se ao reinado de D. Manuel. Não se conhece o artista que reconverteu a antiga mesquita, mas uma remodelação fechou o “mihrab” e algumas entradas.

Outro lugar onde podemos notar a forte influência da arquitetura árabe/islâmica é o Castelo de Silves, originalmente de construção árabe, que remonta ao século VIII. Constituído por muralhas de taipa e espessas torres, ergue-se, no centro, uma enorme cisterna com a abóbada abaulada e cinco arcos de volta inteira.

Já a língua portuguesa sofreu maior influência do Latim, então falado pelos romanos, no entanto o árabe é a segunda constituinte da língua portuguesa, do qual recebeu mais de mil palavras. Certamente vão reconhecer vários vocábulos: relacionados com pessoas, como alcaide, almoxarife, alferes, almirante, arrais, alfândega, atalaia, arsenal, harém, oxalá (queira Deus), salamaleque (do árabe”as-salam’alaik”= a paz esteja contigo); ligados à vida rural e à alimentação: azeitona, azeite, arroz, alfarrobeira, alfazema, alface, algodão, açúcar, açafrão, café, limão, açougue, nora, azenha, açude, alqueire, almude, arrátel, arroba; relativos às ciências: algarismo, álgebra; cáravo ou caravela, barco usado pelos portugueses na época dos Descobrimentos (depois do barinel e antes da nau); muitos nomes próprios: Algarve, Aljezur, Albufeira, Alcântara, Alfama, Azóia, Almoinha, Aiana, Alcorão, (o al significa o) etc., etc.

Há obras literárias, várias inéditas, que descrevem Lisboa como uma cidade bonita com palácios, mesquitas, jardins, termas e mercados. Há lendas de mouras encantadas, há poesia, como a de Ibne Amar, poeta de Silves. O Gharb (território muçulmano que vem a ser Portugal) seria certamente um sítio bom para viver, embora, como já referido, os vestígios sejam reduzidos.

Um outro assunto curioso é o dos provérbios ou ditados populares: há-os das mais variadas proveniências quer ocidental, chinesa, indiana, mexicana ou árabe; têm uma força educativa considerável, talvez porque transmitem em poucas palavras a verdade das coisas e são universais; a cultura popular vai-se espalhando e por vezes perde-se a sua origem; também podem chegar através de um povo que lhes dá a paternidade; pode acontecer permanecer o sentido, mas mudarem os intervenientes devido à nova cultura; a influência também pode estar na forma de pensamento ou na organização das frases. Alguns exemplos:

– “Tal pai, tal filho”;
– “Cada macaco em seu galho”;
– “Casa de ferreiro, espeto de pau”;
– “Mais vale um pássaro na mão, do que dois a voar”;
– “Antes só que mal acompanhado”;
– “Os cães ladram e a caravana passa”;
– “Anda mouro na costa”. Recorda as investidas dos piratas berberes na costa portuguesa. Hoje refere-se a alguém que anda a rondar, interessado.
– (Correr) “Seca e Meca”. É nitidamente árabe, pois Seca era a importante cidade de Córdova (Espanha) e Makkah a cidade santa. Quer dizer fazer muito e não adiantar nada.

Quando pensamos na economia muçulmana, ocorre-nos logo o seu contributo para uma agricultura de tipo mediterrânico, com introdução de plantas como árvores de fruto, arroz, oliveira, vinha, hortas e o uso de técnicas de regadio com a nora, azenha, canais de rega. Praticaram o comércio interno e internacional, desenvolveram várias indústrias, como a têxtil e a cerâmica. Voltando a Mértola no Alentejo, aí praticaram a pecuária; a cultura de trigo; o comércio fluvial no rio Guadiana e o escoamento da produção mineira próxima (das minas de S. Domingos).

A arte árabe ou moçárabe em Portugal é sobretudo arte móvel, onde os arabescos (motivos geométricos estilizados) são o principal elemento decorativo, embora apareçam também representações vegetalistas e animais; as peças de cerâmica para o dia-a-dia sobressaem nesta produção artística.

sintra
Palácio Nacional de Sintra tem como características a forte influência do estilo árabe.

A influência árabe também se verifica, por exemplo no Palácio da Vila (Sintra), no revestimento de paredes e chãos a azulejo e mosaico, com técnicas específicas e uma linda paleta de cores importadas da Espanha mourisca. Era uma decoração bonita e barata. No Algarve observa-se em certas regiões umas chaminés brancas com um rendilhado na parte superior. Embora sejam de hoje, lembram os trabalhos dos árabes que ali viveram.

Das artes da construção – arquitetura militar e civil – nada chegou intacto até nós, mas muito tem sido estudado e até recuperado. Um dos casos relevantes é Mértola, onde tem havido restaurações que vão do Bairro à necrópole (espaços funerários) islâmica. Se estudamos patrimônio árabe construído é obrigatório recordar a abóbada e o arco de ferradura que embora fosse utilizado na Península Ibérica antes dos islâmicos, passou a ser a sua imagem que marca a presença da cultura islâmica. Em Portugal este arco aparece do Norte até ao Algarve.

monte da lua sintra
Palácio Nacional da Pena – Monte da Lua em Sintra, ricamente decorado com o estilo arquitetônico neo-islâmico.

É importante não confundirmos a arte islâmica ou árabe, com a neo-árabe que é uma arte contemporânea (fins do século XIX) que pretendia imitar e recriar com luxo e exotismo a arquitetura muçulmana. Como por exemplo algumas obras neo-árabes: Praça de Touros de Lisboa, Salão árabe no Palácio da Bolsa no Porto, Pátio interior da Casa do Alentejo em Lisboa, e no Brasil o Pavilhão Mourisco no Rio de Janeiro, e a fachada do Mercado Municipal de Campinas.

A Cidade De Fátima

O nome da cidade (antigamente aldeia e depois vila) vem do nome árabe Fátima (Fāţimah, Árabe: فاطمة ). Este era o nome de uma das filhas do profeta Muhammad ﷺ. Fátima é uma cidade Portuguesa, sede de uma Freguesia do Concelho de Ourém, pertencente ao Distrito de Santarém. Localiza-se aproximadamente a 123 km de Lisboa e a 187 km do Porto.

O nome topográfico Fátima tem origem moura (árabe/muçulmana), segundo historiadores, Fátima era uma princesa Moura, que foi raptada aquando da reconquista cristã sob o comando de D. Afonso Henriques, tendo sido dada em casamento a um conde de Ourém (Gonçalo Hermigues), em 1158. A princesa recebeu então o nome de Oureana. De forma a homenagear os seus antepassados deu o nome de Fátima ao primeiro lugarejo que a acolheu e posteriormente o seu nome à Vila Nova de Ourém.

Os Árabes/Muçulmanos em Sesimbra

Sesimbra é um município de cerca de 38000 habitantes espalhados por três freguesias, rodeado de elevações a norte, leste e oeste, banhado pelo Oceano Atlântico a Sul e a Oeste, localizado a uns 30 km a sul de Lisboa, ficando portanto na margem sul do rio Tejo e também à mesma distância da cidade de Setúbal. Também nestas terras a investigação tem contribuído para mostrar o legado islâmico. Há pouco tempo foi descoberta uma placa epigráfica árabe na gruta 4 de Maio: é de madeira compacta, retangular, com 58 centímetros de comprimento por 15,5 de largura e 1 centímetro de espessura.

tabua2
Tabua encontrada em Sesimbra, com trechos do Alcorão em língua árabe.

tabua

Segundo uma arabista esta placa poderia servir para o estudo do Corão e da língua árabe e é provavelmente do século XII, talvez da altura em que os cristãos conquistaram pela 1ª vez o Castelo de Sesimbra e por isso os árabes a esconderam. Numa outra gruta – Lapa do Fumo – ocupada desde a Pré-História e, na Idade Média por muçulmanos provenientes do Norte de África, foram encontrados oitenta quirates de prata, moedas islâmicas cunhadas em Silves (pelo menos algumas) no século XII e algumas panelas do mesmo século.

Se estas marcas provam a presença muçulmana por estas paragens, a história de Portugal também. Como já sabemos esta ensina-nos que Portugal nasceu no século XII, que os reis de Portugal continuam o movimento da Reconquista iniciado no século IX, embora os Árabes nem sempre o permitam. D. Afonso Henriques, depois de conquistar Lisboa e Santarém em 1147, em 1165 passa o rio Tejo conquistando Palmela e chegando a Sesimbra a qual retoma dos mouros. Mas como a Reconquista é feita de avanços e recuos, ainda no século XII os muçulmanos reconquistam várias praças portuguesas.

Em 1201, Sesimbra recebe Carta de Foral (documento com os direitos e deveres duma povoação) do rei D. Sancho I. Assim, esta comunidade cristã, essencialmente rural, embora também ligada ao mar, vai-se desenvolvendo. O controlo militar, administrativo e a organização dos seus recursos e das suas gentes vai centrar-se no Castelo, entretanto reconstruído. Neste Castelo viveu uma população, ora influenciada pela cultura islâmica, ora pela cristã, como o provam as cisternas, os silos, um lagar, os vestígios de cerâmicas islâmicas (louças, telhas e até peças de jogo).

Castillo de Sesimbra
Castelo de Sesimbra também conhecido como Castelo do Mouros.

As marcas árabes são também visíveis na toponímia: ligada à pesca – xávega, almadravas, ou arrais; Azóia, Zambujal, Almoínha, Aiana, Alfarim, Amieira, Apostiça, Albufeira, Arrábida. Em expressões, como “Anda mouro na costa”, já referida no texto anterior.

Próximo de Sesimbra fica a Serra da Arrábida e o Cabo Espichel. É provável, assim o dizem os especialistas, que o culto católico a Nossa Senhora do Cabo (Espichel) existente desde pelo menos o século XIV, e que ele seja uma reatualizarão do da época muçulmana em que já se organizavam peregrinações religiosas. Muito próximo dali fica a Ermida da Memória que tem forma cúbica e zimbório semiesférico, recordando a Kaaba na cidade sagrada de Makkah. O topônimo Arrábida em árabe significa convento fortificado para guardar fronteira, o que poderá lembrar o local onde habitavam homens que meditavam na grandeza de Deus.

Influências da Língua Árabe no Português

O Português é uma língua derivada dos dialetos latinos, românicos peninsulares ou simplesmente romance, que resultaram da mistura do latim vulgar, falado pelos soldados romanos, com os dialetos locais existentes na Península Ibérica à data da sua ocupação.

O Português sofre inevitavelmente a influência da Língua Árabe durante o período Islâmico. É não só muito influenciada pelos dialetos moçárabes falados no Sul da Lusitânia, que absorvem inúmeras palavras Árabes, como posteriormente pelos mudéjares que adotam o romance como sua língua. Apesar dos mais de 500 anos que durou a presença Árabe em Portugal essa influência refere-se essencialmente aos substantivos, pelo que não podemos falar de uma influência estrutural ou gramatical.

Em termos de não substantivos absorvidos pelo português refiro o advérbio Até, os adjetivos Mesquinho e Azul, o pronome indefinido Fulano e três interjeições: Arre!, Rua! e Oxalá. Os substantivos, que a generalidade dos autores apontam para um número de cerca de 1.000, apresentam características fonéticas particulares.

A grande maioria dos substantivos começa com o artigo definido Al (o ou a), muitas vezes com o l assimilado à consoante inicial do substantivo, concretamente quando esta é uma consoante solar.

lingua arabeNo alfabeto Árabe não existem vogais, mas apenas consoantes, e as consoantes dividem-se em consoantes lunares e consoantes solares. As consoantes lunares não têm influência na pronúncia do l do artigo Al, quando constituem a letra inicial da palavra, como por exemplo em Alferes (o cavaleiro), Almeida (a mesa) ou Alcântara (a ponte).

Mas as consoante solares quando colocadas na mesma posição assimilam o l do artigo Al, duplicando o seu valor. Por exemplo Azeite escreve-se Alzeite em Árabe, mas pronuncia-se Azzeite pelo facto de o z ser uma consoante solar. Daí a origem de termos como Azulejo, Açorda ou Atalaia.

Outras formas comuns de início de termos de origem Árabe são as palavras que começam por x (Xadrez, Xarope ou Xerife) ou por enx (Enxaqueca,Enxoval ou Enxofre).
Outras palavras são caracterizadas pela terminação, como as que terminam em i (Javali, Mufti ou Sufi), em il (Cordovil, Mandil ou Anil), em im (Alecrim, Carmesim ou Cetim) e as terminadas em afe ou aque (Alcadafe, Almanaque ou Atabeque).

Algumas consoantes Árabes não entram nos vocábulos portugueses por uma questão de não se adaptarem à forma de pronunciar do português, como o hque geralmente se transforma em f, como em Alfama (do Árabe Alhammam), Alfazema (do Árabe Alhuzaima) ou Alface (do Árabe Alhassa).

Os substantivos podem ser agrupados em várias categorias, maioritariamente relativas a inovações ou contributos que os Árabes introduziram na nossa sociedade, e a topónimos, que se observam de Norte a Sul do País e que muitas vezes aportam informações sobre o passado das próprias localidades.

No primeiro caso refiram-se as designações de cargos públicos (Alcaide, Almoxarife ou Alferes), termos de tipologias de edificações (Alcácer, Alcáçova ou Aljube), de construção (Alvenaria, Azulejo ou Açoteia), de instituições administrativas (Aldeia, Arrabalde ou Alfândega), de plantas (Arroz,Alfazema ou Alfarroba), de frutos (Tâmara, Romã ou Ameixa), de profissões (Alfaiate, Almocreve ou Alfaqueque), de termos relacionados com a agricultura (Enxada, Alcatruz ou Azenha), com a atividade militar (Adaga, Arsenal ou Arrebate), de termos médicos (Xarope, Enxaqueca ou Chá), de termos geográficos (Azinhaga, Lezíria ou Albufeira), de unidades de medida (Alqueire, Arroba ou Arrátel), de animais (Alcatraz, Lacrau ou Javali), de adereços (Alfinete, Almofada ou Alcatifa), de instrumentos musicais (Adufe, Alaúde ou Rabeca), de produtos agrícolas e industriais (Azeite, Álcool ou Alcatrão), das ciências exatas (Álgebra, Algarismo ou Cifra).

No caso dos topônimos, para além da grande maioria de termos iniciados pelo artigo Al ou pela sua forma com o l assimilado, existem outros com origem comum, que podemos agrupar.

Por exemplo, os topônimos iniciados por Ode (do Árabe Ued ou Rio), como Odemira, Odeceixe ou Odeleite. Os iniciados por Ben (em Árabe Ben ou Ibn significa Filho, mas em toponímia tem o significado de Lugar), como Bensafrim, Benfarras ou Benamor. A título de curiosidade refiram-se alguns topônimos de origem Árabe com indicação do seu significado:

Albarraque (Albarrak, ou o brilhante), Albufeira (Albuhaira, ou a pequena barragem), Alcácer (Alqassr, ou o castelo), Alcáçovas (Alqassba, ou a cidadela fortificada), Alcaidaria (a chefia), Alcaide (o chefe), Alcains (Alkanissa, ou a igreja), Alcântara (a ponte), Alcantarilha (diminutivo de Alcântara),Alcaria (a aldeia), Alcobaça (Alkubasha, ou os carneiros), Alcochete (Alqucha, ou o forno), Alcoentre (Alqunaitara, ou a ponte pequena), Alfama(Alhammam, ou os banhos), Alfambras (Alhamra, ou a vermelha), Alfarim (Alfarish, ou corte de floresta, no sentido de industria madeireira),Alfarrobeira (Alharruba, o mesmo que em português), Alferce (a picareta), Algarve (Algharb, ou o Ocidente), Algeruz (o canal), Algés (Aljaich, ou o exército), Algueirão (Aljairan, ou as grutas), Alhandra (Alhammam, ou os banhos), Aljezur (Aljazair, ou as ilhas), Almacave (Almaqabara, ou os cemitérios), Almada (Almadin, ou a mina), Almansil (a estalagem), Almargem (Almarjan, ou o prado), Almedina (a cidade), Almoçageme (Almassjid, ou a mesquita), Almodôvar (Almudura, ou o cercado redondo), Alqueidão (Alhaima, ou a tenda), Alvaiázere (Albaiaz, ou o falcoeiro), Alvalade(Albalad, ou o campo), Alverca (Albirka, ou o pântano), Alvor (Albir, ou o poço), Alvorge (Alburj, ou a torre), Arrábida (lugar de oração), Asseca(caminho recto e plano), Atalaia (lugar alto de onde se exerce vigilância), Azambuja (o zambujeiro), Azeitão (zona de produção de azeite), Azóia (Azauia, ou lugar de oração), Bensafrim (Ben Safarin, ou lugar dos feiticeiros), Bobadela (Bu abdallah, ou filho do escravo de Deus), Boliqueime (Bu Alhakim, nome próprio), Cacém (nome próprio, que significa aquele que testemunha), Caneças (Kanissa, ou igreja), Cuba (pequena torre), Faro (Harun, nome próprio), Fátima (nome da filha do Profeta Muhammad), Loulé (Al’ulia, ou a alta), Mafamude (Mahmmud, um dos nome do Profeta), Mafra (Mahfra, ou cova),Malhada (lugar de travessia de um rio), Marvão (Marwan, nome próprio), Massamá (Maktamá, ou nascente de água), Mesquita (Massjid, o mesmo que em português), Messejana (prisão), Odemira (Ued Amira, ou rio da princesa), Palmela (Bismillah, ou em nome de Deus), Queluz (vale da amendoeira), Safara (Sahara, ou deserta), Salema (Salama, ou paz).

*** Os moçárabes (do árabe مستعرب musta’rib, “arabizado”‎)[1] eram cristãos ibéricos que viviam sob o governo muçulmano no Al-Andalus. Os seus descendentes não se converteram ao Islam, mas adoptaram elementos da língua e cultura árabe. Eram principalmente católicos romanos de rito visigótico ou moçárabe.

*** Mudéjar é um termo que deriva da palavra em árabe: مدجّن [mudaǧǧan] que significa “doméstico” ou “domesticado” e que se utiliza para designar os muçulmanos ibéricos que permaneceram vivendo em território conquistado pelos cristãos, e sob o seu controlo político, durante o longo processo da chamada Reconquista, que se desenvolveu ao longo da Idade Média na península Ibérica. A estes muçulmanos foi permitido prosseguir a prática da sua religião, utilizar o seu idioma e manter os seus costumes. Durante a Idade Moderna foram obrigados a converter-se ao cristianismo, passando assim a denominar-se mouriscos.

Resumo

A presença muçulmana em Portugal desenvolveu-se os centros urbanos de al-Usbuna (Lisboa) e Santarin (Santarém). No Baixo Alentejo, as cidades de Baja (Beja) e Martula (Mértola) e, no Algarve — onde a presença muçulmana se manteve por seis séculos — surgiram Silb (Silves) e Santa Mariya al-Harum (Faro). Os árabes — designação genérica de um conjunto de populações berberes, sírias, egípcias e outras — substituíram os antigos senhores visigodos. Mostraram-se, em geral, tolerantes com os usos e costumes locais, admitindo as práticas religiosas das populações submetidas e criando condições para os frutíferos contatos econômico e cultural que se estabeleceram entre cristãos e muçulmanos.

Os vestígios materiais da longa permanência muçulmana ficam aquém das expectativas, principalmente porque a política cristã de reconquista foi a de “terra arrasada”. Cada localidade retomada aos árabes era destruída e os objetos e construções queimados em fogueiras que ardiam durante dias. Mas restaram alguns elementos que atestam este período da vida portuguesa, principalmente nas muralhas e castelos, bem como no traçado de ruelas e becos de algumas cidades do sul do país. Não restaram grandes monumentos, fato que se explica pela situação periférica do território português em relação aos grandes centros culturais islâmicos do sul da península.

A igreja matriz de Mértola é a única estrutura em que se reconhecem os traços de uma mesquita. São testemunhos da ascendência árabe os terraços das casas algarvias, as artes decorativas, os azulejos, os ferros forjados e os objetos de luxo: tapetes, trabalhos de couro e em metal. Com a tradução de inúmeras obras científicas, desenvolveram-se a química, a medicina e a matemática, sendo de origem árabe o sistema de numeração ocidental. A influência árabe foi particularmente importante na vida rural, sendo determinante o desenvolvimento de técnicas de regadio a partir de usos peninsulares e romanos. Através da introdução de novas plantas — o limoeiro, a laranjeira azeda, a amendoeira, provavelmente o arroz, e do desenvolvimento da cultura da oliveira, da alfarrobeira e da plantação de grandes pomares (são famosos os figos e uvas do Algarve e as maçãs de Sintra) reforçaram a vocação agrícola da região mediterrânea.

A ocupação islâmica não provocou alterações na estrutura linguística que se manteve latina, mas contribuiu com mais de 1000 vocábulos, sobretudo substantivos referentes a vestuário, mobiliário, agricultura, instrumentos científicos e utensílios diversos. As constantes lutas internas, além das cíclicas tentativas de fragmentação do estado islâmico peninsular, contribuíram para o avanço cristão que, lentamente, foi empurrando os muçulmanos para sul. A luta entre cristãos e muçulmanos arrastou-se, com avanços e recuos, ao longo de seis séculos, sendo o Algarves acrescentado ao território português em 1249, no reinado de Afonso III.

Os numerosos descendentes dos árabes que, após a Reconquista, permaneceram em Portugal, viviam nas mourarias, arrabaldes semi-rurais junto dos muros das cidades e vilas, das quais se conserva a memória, nos nomes e nas plantas de mais de vinte localidades, como Lisboa e muitas outras ao sul do Tejo.

Por mais que o ocidente tente esconder a contribuição dos muçulmanos no desenvolvimento do conhecimento e das ciências no mundo, cada vez mais podemos notar que a história por si só nos revela que os muçulmanos impulsionados pelo Islam, contribuíram e muito para o desenvolvimento da sabedoria para toda a humanidade.

Esta é uma lista de nomes de cidades, vilas e freguesias portuguesas em árabe (sendo que em algumas situações o nome atual deriva diretamente do topônimo árabe):

Povoação portuguesa

Nome árabe

Alandroal

 

Albarraque

 

Albarrol

 

Albufeira

al-Buhera

Alburitel

 

Alcabideche

al-Qibdhaq

Alcácer do Sal

al-Qasr-al-Baja ou al-Qasr abu Danis (قصر أبي دانس)

Alcáçovas

al-Qasba

Alcafache

 

Alcafozes

 

Alcains

al-Kanisa

Alcanede

 

Alcanena

 

Alcântara

al-Qantara

Alcantarilha

diminutivo de al-Qantara

Alcaria

al-Qariya

Alcobaça

al-Qubasha (carneiro); também pode derivar do latim Helicobatia

Alcobertas

 

Alcochete

 

Alcoentre

 

Alcofra

 

Alcoitão

 

Alcongosta

 

Alcorochel

 

Alcôrrego

 

Alcoutim

derivado do latim Alcoutinium, manteve-se durante a ocupação muçulmana

Alcôrrego

 

Alfama

al-Hamma (fontelugar de banhos)

Alfarelos

 

Alfarrobeira

 

Alfeizerão

 

Alfena

 

Alferce

 

Alferrarede

 

Alfornelos

 

Algarve

al-Gharb

Algés

al-Jeis

Algeriz

 

Algoz

al-Ghuz (ا )

Algueirão

al-Gar

Alhandra

al-Hamma (fontelugar de banhos)

Aljazede

 

Aljezur

al-Jazirah (ا ilhapenínsula)

Aljustrel

al-Lustr

Aljubarrota

 

Almacave

al-Mugabar (cemitério)

Almaceda

 

Almada

Hisn al-Madin (حصن المعدن)

Almancil

 

Almargem do Bispo

al-Marje

Almagreira

 

Almeirim

al-Mairim (talvez um antropónimo)

Almendra

 

Almendres

 

Almodôvar

al-Mudawwar (المدوّر)

Almofala

 

Almoster

al-Monasterium (contracção do artigo definido árabe al- com o substantivo latino monasterium)

Alpalhão

 

Alpiarça

 

Alportel

 

Alqueva

 

Alqueidão

al-Qaiatun (tenda; passagem estreira)

Alvados

 

Alvaiázere

al-Baiaq

Alvalade

al-Balat

Alvelos

 

Alvendre

 

Alverca

al-Birka ou al-Borka

Alviobeira

 

Alvito

 

Alvite

 

Alvites

 

Alviela

 

Alvor

Albur

Alvorge

al-burj, (البرج)

Alvorninha

 

Arrábida

 

Atianha

 

Azeitão

 

Azinhaga

 

Beja

al-Bajah az-Zayt (باجة الزيت)

Bensafrim

 

Benfica

 

Bobadela

abu ‘Abd Allah (أبو عبد اللهfilho do servo de Allah)

Cacela

Hisn-Qastalla

Cacém / Santiago do Cacém

al-Qashim (divisão)

Caia

al-Qaya

Caneças

al-Kanisa (igreja)

Castro Marim

al-Qasruh

Coimbra

al-Qulumriyya (قلمريّة), ou mais raramente Kuwīmbrā (كويمبرا)

Elvas

al-Bash

Évora

al-Yabura (يابرة)

Façalamim

Actualmente, Santiago da Guarda. O nome anterior, muçulmano, significa “Foice do Amim”.

Faro

al-Farun ou al-Harun (فارو)
al-Uqshunuba [Ossónoba] (أخشونبة)
Shantamariyyat al-Gharb [Santa Maria do Ocidente/Santa Maria do Algarve] (شنتمريّة الغرب)

Fátima

al-Fatimah (فاطمة)

Idanha

al-Antaniya

Juromenha

al-Julumaniya

Lagos

al-Zawiya

Lisboa

al-Ushbuna (الأشبونة) raramente al-Lishbuna (لشبونة)

Loulé

al-‘Ulyâ ()

Marachique

Marajiq

Marvão

Marwan (مروان), de Ibn Marwan

Massamá

al-Massamah (que está no altolugar onde se toma boa água)

Mértola

al-Martulah (مارتلة)

Messejana

al-Masjana (cárcere, prisão)

Monsanto

Munt Shiyun (do latim Mons Sanctus)

Moscavide

al-Masqba

Moura

al-Manijah ou al-Maura

Odeceixe

 

Odeleite

wadi-Lait

Odemira

al-Uadhra

Odiáxere

 

Odivelas

wadi-Bala’a

Olhão

al-Hain

Oriola

Uryūlâ (أريولة), Ūryūlâ (أوريولة)

Paderne

Bantar ()

Palmela

 

Portimão

Burj Munt (Monte da Torre)

Porto

Burtuqal (برتقال), ou mais raramente, Ūbūrtū (أوبورتو)

Queluz

Qâlluz (vale da amendoeira)

Ribeira de Alcalamouque

 

Sacavém

aš-Šaqaban (شقبان)

Sagres

Saqris

Santa Iria de Azóia

al-Zawiya (الزاوية) [al-Taytal]

Santarém

as-Shantariyn ou Santaryn (شنترين) ([cidade de] Santa Iria / Santa Irene)

São Brás de Alportel

Šanbras ()

São Miguel de Alcainça

al-Kanisa (igreja)

Segura

Šaqūrâ (شقورة)

Serpa

Shirba

Silves

as-Shilb (شلب)

Sintra

as-Shantara

Tavira

at-Tabira

Terena

at-Talanna

Tunes

at-Tunis (تونس)

Vila Franca de Xira

as-Shirush

Artigo anteriorO Emirado da Sicília – Transmissão do Conhecimento Cientifico e Cultural islâmico
Próximo artigoCelebração do Dia Nacional do Kuwait