Diretor do CDIAL concede entrevista à revista da Câmara Árabe

0
803

Leia a entrevista concedida por Ziad Ahmad Saifi, Diretor Executivo do Centro de Divulgação do Islam Para América Latina e do Portal IslamBR, à Câmara Árabe em Revista.

Câmara Árabe: Quais são as principais datas festivas da religião muçulmana? Cada uma destas datas tem quais características específicas (por exemplo, exigem jejum por parte do fiel, consumo de algum alimento específico, etc.)? Discorra a respeito.

Ziad Saifi: Nós, muçulmanos, celebramos duas festas principais: Eid Al-Adha, também conhecida como a Grande Festa ou Festa do Sacrifício, e Eid Al-Fitr.

A primeira é celebrada no dia 10 do mês de Dhul-Hejjah e nos faz refletir sobre a disposição do profeta Ibrahim (Abraão) (عليه السلام) de sacrificar seu próprio filho como prova de sua submissão às ordens de Allah. Neste dia, como reconhecimento da obediência do profeta Ibrahim (عليه السلام), Deus substituiu seu filho por uma ovelha descida dos Céus. É chamada de Grande Festa pelo fato de durar três dias e envolver muita oração, agradecimento a Deus e reflexão para toda a comunidade.

Já a segunda, é celebrada no primeiro dia do mês de Shaual, e marca o final do jejum do mês de Ramadan. Esta festa é dada em agradecimento a Deus por ter nos permitido chegar, passar e completar esse mês.

As duas festas têm por características a celebração comunitária, permeada pela reflexão religiosa sobre os eventos que as originaram. Num clima de bastante alegria e unidade, São consumidos alimentos e bebidas Halal (lícitos).

B) A comunidade árabe muçulmana brasileira é majoritariamente sunita, xiita ou de algum outro ramo do islamismo? Há datas religiosas e/ou festividades específicas de algum destes ramos presentes no Brasil, ou as datas festivas do islamismo sunita são comuns a todas as vertentes da religião presentes no Brasil? Discorra a respeito.

Em todo o mundo há uma maioria absoluta de sunitas, sejam eles árabes ou não. Isto, obviamente, reflete-se no Brasil, uma vez que há imigrantes de muitos países, o que faz com que tenhamos uma relativa igualdade na proporção entre os ramos citados.

Nós, muçulmanos, temos festas como as duas citadas acima, o casamento (que é uma das celebrações fundamentais da nossa fé), o nascimento de um filho ou filha, que é o momento de celebração para a família e a comunidade. Tanto o jejum e a oração, quanto as festas, para nós, são tratados como atos de adoração a Deus.

No caso dos pratos servidos em datas festivas religiosas muçulmanas, quais são os cuidados que devem ser tomados para que os mesmos sejam halal (ou seja, estejam de acordo com as normas alimentares do islamismo)? Discorra a respeito.

O cuidado do muçulmano com a alimentação não está restrito às festas. Halal quer dizer lícito, ou seja, não podemos admitir que se consuma qualquer alimento ou bebida ilícitos em qualquer dia do ano. É importante ressaltar que esta observância da obrigatoriedade de consumir alimentos halal tem crescido em todo o mundo, tanto pelo aumento significativo do número de muçulmanos, quanto pela procura por alimentos saudáveis por parte daqueles que ainda não pertencem à nossa religião. Os benefícios físicos deste tipo de alimentação são comprovados cientificamente como importantes para o desenvolvimento saudável das pessoas, além, é claro, dos benefícios espirituais.

Não é à toa que o Brasil seja um dos maiores produtores e exportadores de carne halal, competindo diretamente para liderar um mercado que apresenta ampla perspectiva de crescimento.

É óbvio que nos dias festivos há uma quantidade maior de alimentos e que, em algumas regiões ou mesquitas, haja necessidade de contratação de empresas para organização destas festas. Nestes casos, sempre há um cuidado especial na orientação sobre as exigências de nossa religião aos profissionais que vão produzir e manusear os alimentos.

Câmara Árabe: Qual a importância simbólica que as refeições desempenham nas ocasiões religiosas e/ou festivas da comunidade árabe muçulmana brasileira? Nestas ocasiões, as famílias árabes muçulmanas brasileiras costumam ir a restaurantes da comunidade ou fazem as refeições especiais daquela data em suas casas? Discorra a respeito.

Ziad Saifi: O ato de reunir a comunidade e partilhar o alimento é histórico e permeado por simbolismos que remetem a uma relação profunda com a nossa fé. Esta comunhão nos faz perceber que pertencemos a uma grande comunidade, uma grande nação, espalhada pelo mundo inteiro. Aprendemos que aquele com quem celebramos é nosso companheiro, ou seja, “aquele com o qual repartimos e comemos o mesmo pão”.

É importante que esta celebração de fé e unidade seja comunitária. Por isso, em várias mesquitas a comunidade se reúne, seja nas próprias mesquitas ou em clubes e restaurantes. Em locais onde há poucos muçulmanos, é natural que as famílias celebrem as festas em suas próprias casas. Seja com toda a comunidade, seja só em família, para nós, o mais importante é o vínculo que fazemos destes festejos com seus significados religiosos.